"Horas benditas, leves como penas, Horas de fumo e cinza, horas serenas..."_Florbela Espanca. E este será um recanto para um encontro de amigo(a)s, para tomar chá ou café, receitas caseiras em doses de afectos ou outros sabores de boa disposição...ah: e sobre ditos, mitos & ritos...

31/05/2008

As Cerejas _ Despedida de Maio....

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As Cerejas _ Despedida de Maio...



É mesmo à saída do mês de Maio que dedicamos esta página à fruta símbolo da época que corresponde ao início do tempo quente, do mês em que se inicia o Verão conforme é ditado pelo calendário em uso, mas que o povo, surpreendentemente, usa para registar as reviravoltas do tempo, quando nos bafeja com ares de frescura já inusitada:" Em Maio, comem-se as cerejas ao borralho".
E pareceu-me, sobretudo este ano, que nunca houve, de entre as últimas décadas, mote tão verdadeiro, ainda por cima sem a referida surpresa, pois teve um prolongamento incomum. Enfim...
Já o "Borda d'Água" também enuncia:" Maio pardo e ventoso faz o ano formoso". A ver vamos...

Novamente com a ajuda de vários escritos que entretanto li, não há muitos dias, e contando com os conhecimentos mais fundamentados do que os meus sobre este fruto, vou apresentar algumas transcrições e considerações sobre o mesmo, suas particularidades e aplicações _ ou meras sugestões.



A CEREJA
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O SÍMBOLO SABOROSO DA CHEGADA DO VERÃO

A cereja é, provavelmente, o fruto que reveste uma maior carga simbólica(pessoalmente, eu acrescentaria: em concorrência com a maçã e o morango...). Tanto nas civilizaçoes orientais como a ocidente, as cerejas sempre foram profusamente evocadas quer através das tradições orais quer das penas mais eruditas. Se as suas flores inspiram pureza e virtude, os frutos redondos e carnudos aludem ao prazer e à sensualidade, mas também à fartura e à celebração.
Em quase todas as línguas e culturas do hemisfério norte existem citações que comportam a expressão: "...como as cerejas..." que evocam o seu carácter irresístivel... A época das cerejas traz à memória imagens de infância, do início das férias escolares, de brincadeiras nos pomares, das meninas que se adornam de brincos de cerejas, dos rapazes que se empoleiram sob as copas, das cerejeiras das fisgas em punho à espera ds gaios ou melros mais incautos, das valentes dores de barriga causadas por comer as cerejas ainda quentes de expostas ao sol estival.
" Em Maio, as cerejas, uma a uma leva-as o gaio; em Junho, a cesto e a punho".

Estima-se que as cerejas datam do período pré-histórico e tiveram origem na Ásia. Terá sido Lucullus, o grande gastrónomo romano, o primeiro a falar de cerejas. Ele terá trazido para Roma alguns exemplares do então exótico fruto no regresso de uma campanha contra Mitridato IV Rei de Ponte, no actual norte da Turquia. Mais tarde, Plínio o Velho relatou que as cerejas só terão chegado a Itália em 74 a.C., corroborando a tese anterior, e que nos 120 anos seguintes se terá espalhado por toda a Europa até às lhas Britânicas. Descrevendo as diferntes variedades, enalteceu as cerejas da Macedónia, da Jónia e da Lusitânia. Em Portugal há muitas terras cuja fama vem das boas cereas que produzem: as de Freches (Trancoso), de polpa firme e rija que amadurecem tão de repente que os pássaros não têm tempo de as debicar; as do Douro Sul, de Resende que têm a reputação de serem as que primeiro amadurecem em toda a Europa; as do Alto Douro, de Alfândega da Fé ou do Fundão ede toda a Cova da Beira, as de S. Julião (DOP) Portalegre e as ginjas de Alcobaça que também são cerejas, mas bravas. A época das cerejas é bastante breve, na maior parte das regiões dura seis semanas, no máximo oito. É por isso importante que os consumidores lhes dêem a devida atenção durante este período e tirem o melhor partido de todas as virtudes desta fruta maravilhosa.

As cerejas frescas são, de todos os frutos, detentoras do recorde de concentração de caroteno (400mg/100gr), são muito ricas em vitaminas A, E e C e têm também virtudes laxativas suaves. Contêm, ainda, pectina, nitrato de potássio e uma variedade de acúcares como a levulose. O seu conteúdo em potássio confere-lhe propriedades diuréticas e as fibras estimulam o bom funcionamento dos intestinos.Os pés das cerejas são utilizados, em decoração ou para o tratamento das infecções das vias urinárias.

Nos Estados Unidos, o maior produtor mundial a seguir à Turquia, fala-se agora das propriedades anti-oxidantes da cerejas. Os médicos encorajam o consumo de cerejas durante o ano inteiro e a Associação de Produtores Americanos de Cerejas gasta importantes recursos a inventar novos modos de transformar o imenso stock de 280 milhões de toneladas produzidas anualmente, em subprodutos que possam ser consumidos ao longo do ano. A cereja é considerada o novo "super-fruto". Assim, vendem-se cerejas descaroçadas em calda, congeladas e em passa, cerejas liofilizadas em flocos, puré de cerejas, sumo natural e congelado de cerejas, barras energéticas de pasta de cereja...É verdade que os produtores portugueses precisam de optimizar os circuitos de distribuição e criar mais-valias à volta do fruto, mas os consumidores também devem tomar a iniciativa de utilizar as cerejas de outras formas que não só "ao natural". As cerejas podem ser consumidas de muitas formas distintas enriquecendo variadas preparações gastronómicas: um pouco de puré de cerejas, simplesmente esmagadas, misturado num iogurte natural e alguns cereais constitui um pequeno almoço tonificante; o sumo de cereja dá uma dimensão frutada e delicada ao molho de um assado decarne vermelha ou de aves; descaroçadas e cortadas em gomos dão frescura a qualquer salada verde; em "chutney" acompanham bem qualquer assado; salteadas em manteiga e glaceadas com vinagre balsâmico harmonizam-se perfeitamente com um "magret" de pato. Como sobremesa podem preparar-se deliciosos "clafoutis" de cerejas negras com caroço, tartes de cereja ou a famosa floresta Negra: um bolo de chocolate com cerejas, chantilly e lascas de chocolate preto.


A partir de Maio celebra-se a cereja no mundo inteiro. Existe um "site" alemão que junta todas as festas da cereja, mas que, curiosamente, não fala de nenhuma em Portugal. Fala da Festa de Traverse City no Michigan, a maior do mundo, e de outras seis nos Estados Unidos, de mais quatro na Alemanha, uma na Suiça e outra na Áustria, de duas na África do Sul, de uma em Jerte,na Estremadura espanhola e até do "Moussem des Cerises", o festival anual de Safrou em Marocos. Por cá, festeja-se a cereja em Resende, Alfândega da Fé, Fundão e Câmara de Lobos na Madeira.

Não deixe de comer cerejas enquanto é tempo delas. Esteja atento ao ciclo sazonal e à proveniência destes e de outros frutos para poder desfrutar deles nas melhores condições. A sua saúde agradece! "
(André Magalhães, em arjornal)


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E é no próprio dia do Festival do Morango, que se celebra em Torres Vedras, que encerramos o mês de Maio, através da saborosa e colorida sugestão de dois "frutos vermelhos" _ actualmente no "top" dos alimentos mais benéficos para uma alimentação saudável _ a fazer a transição de uma fronteira temático-temporal que este espaço tem trazido por essas ondas afora...

Nota: Que tal uma receita _ explícita _ de uma tarte de ...cerejas ? Alguém aceita o desafio??

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Bom proveito!


12/05/2008

MAIO.MÊS.DE.MARIA ou Aspectos Femininos Nas Devoções...

.... ...CULTO(s) MARIANO(s)
ou
Aspectos Femininos Nas Devoções...



Estamos em Maio: a natureza encontra-se em plena pujança e, mau-grado os arautos das desgraças e crises escatológicas, esta não é certamente a única era em que eles se fazem ouvir, nem de os cataclismos aparecerem como se de uma novidade, exclusivamente guardada para os nossos dias, se tratasse…

Mas quer em tempos de aflição, quer em momentos de abundância, logo, de necessidade de garantir a prossecução das benesses, os povos criaram os ritos de devoção a forças exteriores, aparentemente determinantes do seu bem-estar…ou da sua miséria: acima de tudo a natureza, ou o seu desdobramento nas diversas facetas apercebidas, conforme as geo-culturas iam determinando.

Parece claro que a forma mais exterior, i.e., mais visível, de configurar essas forças era atribuir o poder aos corpos celestes dominando o ciclo mais breve: o do dia/noite; logo os astros mais longínquos se referenciaram a outros ciclos com reflexo nos aspectos da natureza, sobretudo quando se passou às sociedades recolectoras…e por aí adiante… até à percepção da relação dos ciclos da mulher, a sua relação com o poder da semente, o crescimento da sua posição como mãe multiplicadora da espécie, configurando-se então na mãe-terra, correspondendo também ao predomínio das sociedades matriarcais.

E passarei então a socorrer-me do bordão de outros com saberes mais apurados_ ou pelo menos mais dedicados _ sobre os tópicos que irei abordar _ muito ao de leve…
(sim, não vamos esquecer: usar com seu nome as palavras de outrO, é plágio; usar as de outrOS é …pesquisa! )



"(...)
JOÃO PAULO II
AUDIÊNCIA
Quarta-feira 15 de Outubro de 1997
O culto da Bem-aventurada Virgem
Caríssimos Irmãos e Irmãs:
1. «Ao chegar a plenitude dos tempos, Deus enviou o seu Filho, nascido de mulher...» (Gl 4, 4). O culto mariano funda-se sobre a admirável decisão divina de ligar para sempre, como recorda o apóstolo Paulo, a identidade humana do Filho de Deus a uma mulher, Maria de Nazaré.
O mistério da maternidade divina e da cooperação de Maria na obra redentora suscita nos crentes de todos os tempos uma atitude de louvor, quer para com o Salvador quer Àquela que O gerou no tempo, cooperando assim na redenção.
Um ulterior motivo de reconhecido amor pela Bem-aventurada Virgem é oferecido pela sua maternidade universal. Ao escolhê-la como Mãe da humanidade inteira, o Pai celeste quis revelar a dimensão, por assim dizer materna, da Sua ternura divina e da Sua solicitude pelos homens de todas as épocas. (...)"


Nas palavras e óptica feminista politizada de Élisabeth J. Lacelle:

"(...)O feminino inferiorizado na Igreja. Esta é a questão, também, para Mary Daly em "Le deuxième sexe conteste" (1969). Ela reconhece como patriarcais as instituições da Igreja católica romana, com suas conseqüências na socialização das mulheres. E denuncia um ensino teológico centrado no homem, a partir de uma concepção do masculino como exemplar de humanidade e, por conseqüência, das representações de Deus. Ela já sublinha a distorção cristológica que faz da masculinidade de Cristo um dado de revelação para confirmar a aptidão do tipo humano masculino para representa-lo publicamente como "Cabeça da Igreja" e nas celebrações sacramentais públicas como a Eucaristia. Ao denunciar o anacronismo sócio-cultural e o abuso de poder que essa tradição entretém, inferiorizando, sistematicamente, a vocação social e, sobretudo, eclesial, das mulheres, ela realiza, é verdade, um deslocamento hermenêutico na sua leitura da tradição cristã, distinguindo o que depende do sócio-cultural daquilo que constitui o essencial da existência cristã e da mensagem cristã...(...) "


De:


FORUNS:
(…)
"Quando em 200DC o culto de Isis está no auge podemos assumir que alguns aspectos sentimentais e figurativos do anterior culto de Diana tenham sido transferidos para Isis como mais tarde seriam transferidos para Maria. Mas dizer que é tudo a mesma coisa é nitidamente abusivo. É como dizer que as mulheres são todas iguais e perseguem os mesmos objectivos de vida porque têm características sexuais comuns. Da mesma forma, não é porque o Natal se celebra a 25 de Dezembro que somos adoradores do Sol. O facto da Igreja ter transferido para si muitas das imagens, datas e até ideias pagãs, não paganizou o cristianismo mas antes cristianizou os cultos pagãos. Atitude inteligente que permitiu cristianizar minimizando tensões e conflitos. A veneração de Maria foi com certeza importante para não dizer fundamental neste processo. Quando no fim séc. IV o paganismo é ilegalizado, os seus templos são destruídos ou reconvertidos em templos cristãos. Assim muitas igrejas dedicadas a Maria são construídas sobre o que eram anteriormente templos de Diana ou de Ísis ou de outras deusas pagãs, o que naturalmente ajudou à identificação das populações com os novos valores cristãos, tendo por associação os santos cristãos assumido títulos anteriormente dedicados aos deuses pagãos...(...)"
De: “Vampiros”_ Marcos Torrigo :
“…. A bruxaria e os cultos femininos são tão antigos quanto o tempo. No Paleolítico, o corpo da mulher era sagrado, divino por natureza, mistério, a anima mundi. As mulheres eram para muitos antropólogos e mitólogos as portadoras do saber e poder Mágico. Tanto é que há mitologias em todo o globo tratando do processo que os homens tiveram que encetar para tentar controlar este poder. Em resposta a este poder foram criadas as sociedades secretas exclusivamente masculinas, similares à maçonaria de hoje. O enfoque feminino possivelmente era mais ligado às plantas e o masculino aos animais. Este conflito retrata uma deusa imanente versus um deus transcendente. Muito do mal e do demoníaco associado à mulher é advindo desta transição. Sabemos que os deuses dos vencidos são os demônios dos vencedores, e com o arquétipo feminino não foi diferente. Para as culturas antigas o vampirismo estava intimamente associado ao feminino: Lâmia, Lilith e uma infinita turba de lascivas e demoníacas entidades femininas. É bem sabido que, para as grandes religiões de hoje em dia, a mulher é ainda associada ao mal, ao pecado e à tentação. Algumas teorias, como já vimos, falam de uma era matriarcal que teria sido sobrepujada pela patriarcal, por mais que este dado antropológico gere polêmica, ele se apóia na psicologia interna, uma identificação com a mãe e a fase oral, e o patriarcado, a fase fálica. E fácil imaginar que esta mudança não ocorreu de uma só vez, e também foi feita de forma violenta muitas vezes. Encontraremos resquícios em várias partes do mundo, pois nos judeus até hoje um filho de mãe judia é judeu, mas o de pai judeu não. Para a compreensão destes factos e sua ligação (...), iremos tratar de um arquétipo que sintetiza sobremaneira a miríade de elementos da Magia .(...)

WIKIPEDIA
"Aspecto Materialista do culto a deusas femininas
(...)Os cultos das deusas estão basicamente ligados a três aspectos:Psicológico, Geo-Físico e Econômico. O Aspecto psicológico sempre bem tratado por
Freud, engloba a veneração dos antigos pela geração Materna(A grande mãe), pela atracção fisiológica que a mulher exerce sobre o homem. O Aspecto Geo-físico está ligado as veneração pela natureza, pelas estrelas e etc. O aspecto econômico está ligado a produção material, a mulher sustentava toda a gens com a plantação, já o homem que caçava poderia não voltar, explicando assim a grande veneração às deusas na Antiguidade neolítica superior.

Passagem do matriarcalismo ao patriarcalismo
É interessante notar a mudança que sofrem os
mitos de deidades femininas ao longo deste processo, pois após a derrocada do matriarcalismo e a descoberta do ferro, todos os valores femininos foram também caindo, se trasformando em demonios e absorvendo todo o estereótipo criado por seus opositores e engendramentos econômicos.As relações entre mitologias femininas parecidas distantes são inúmeras.
Gnosticismo
Os gnósticos sempre foram perseguidos por acreditar que a Divindade se manifestava duplamente, como Pai-Sabedoria e como Mãe-Amor.

Deusa mãe-wikipedia

...(...)"Uma deusa mãe (ou deusa-mãe) é uma
deusa, amiúde representada como a Mãe Terra, que serve como deidade de fertilidade geralmente sendo a generosa personificação da Terra. Como tal, nem todas as deusas podem considerar-se manifestações da deusa mãe.
Esta deusa é representada nas tradições ocidentais de muitas formas, das imagens talhadas em pedra de
Cibeles a Dione, deusa invocada em Dodona, junto com Zeus, até finais da época clássica. Entre os hinos homéricos (séculos VII-VI a.C.) há uma dedicação à deusa mãe chamado «Hino a Gea, Mãe de Todo». Os sumérios escreveram muitos poemas eróticos sobre sua deusa mãe Ninhursaga.[1]
As deidades que encaixam na moderna concepção de «deusas mães» tem sido claramente adoradas em muitas sociedades até à actualidade.
James Frazer (autor de A rama dourada) e aqueles a quem influenciou (como Robert Graves e Marija Gimbutas) avançaram a teoria de que todo o culto na Europa e Egeu que incluiu qualquer tipo de deusa mãe tinha sua origem nos matriarcados neolíticos pré-indoeuropeus, e que suas diferentes deusas eram equivalentes.
Ainda que tenha tido boa aceitação como categoria útil para a
mitografia, a idéia de que na antiguidade se cria que todas estas deusas eram intercambiáveis não tem sido continuada pelos investigadores modernos, notavelmente por Peter Ucko.[2] ...(...)"


Figuras paleolíticas
Encontraram-se diversas figuras pequenas e, muitas vezes, corpulentas, no decurso de
escavações arqueológicas do Paleolítico Superior, sendo talvez a mais famosa a Vênus de Willendorf. Muitos arqueólogos crêem que representavam deusas, ainda que outros crêem que podem ter servido para algum outro fim. Estas figuras são anteriores em vários milhares de anos aos registos disponíveis de deusas detalhadas a seguir como exemplos, pelo que ainda parecem pertencer ao mesmo tipo genérico, não está claro se de facto eram representações de uma deusa ou se houve alguma continuidade religiosa que as relacionasse com as deidades do Oriente Médio e da Antiguidade Clássica.



Exemplos de deusas mães
Não há disputas sobre o facto de muitas culturas antigas adorarem deidades femininas como parte de seus panteões que encaixam com a concepção moderna de «deusa mãe». As seguintes são exemplos:


Deusas sumérias, mesopotâmicas e gregas
Tiamat na mitologia suméria, Ishtar (Inanna) e Ninsuna na caldeia, Asherah em Canaã, Astarté na Síria e Afrodite na Grécia, por exemplo.


Deusas celtas
A deusa
irlandesa Anann, às vezes conhecida como Dana, tem um impacto como deusa mãe, a julgar pelo Dá Chích Anann cerca de Killarney (Condado de Kerry). A literatura irlandesa nomeia a última e mais favorecida geração de deuses como ‘o povo de Danu’ (Tuatha de Dannan), Ceridween.

Deusas nórdicas
Entre os
povos germânicos provavelmente foi adorada uma deusa na religião da Idade de Bronze Nórdica, que mais tarde foi conhecida como Nerthus na mitologia germânica, e que possivelmente seu o culto persistiu no culto a Freya da mitologia nórdica. Sua equivalente na Escandinàvia era a deidade masculina Njörðr.


Deusas gregas
Nas culturas do
Egeu, Anatólia e no antigo Oriente Próximo, uma deusa mãe foi venerada com as formas de Cibeles (adorada em Roma como Magna Mater, a ‘Grande Mãe’), de Gea e de Rea.
As
deusas olímpicas da Grecia clássica tinham muitos personagens com atributos de deusa mãe, incluindo Hera e Deméter.[3] A deusa minoica representada em sellos outros restos, a la que os gregos chamavan Potnia Theron, ‘Senhora das Betas’, muitos de cujos atributos foram logo absorvidos também por Artemisa, parece haver sido um tipo de deusa mãe, pois em algumas representações amamenta os animais que segura. A arcaica deusa local adorada em Éfeso, cuja estátua de culto se enfeitava con colares e faixas de onde surgiam protuberancias redondas,[4] mais tarde identificada pelos helénicos como Artemisa, foi provavelmente também uma deusa mãe.
A festa de
Anna Perenna dos gregos e romanos no Ano Novo, a 15 de Março, perto do equinócio, pode ter sido uma festa da deusa mãe. Dado que o Sol era considerado fonte de vida e alimento, esta festa também se equiparava à da deusa mãe.


Deusas romanas
A equivalente de
Afrodite na mitologia romana, Vênus, foi finalmente adoptada como figura de deusa mãe. Era considerada a mãe do povo romano, por ser a de seu antepassado, Eneas, e antepassado de todos os subsequentes governantes romanos. Na época de Júlio César apodava-se de Vênus Genetrix (‘mãe Venus’).
Magna Dea é a expressão latina para ‘Grande Deusa’, e pode aludir a qualquer deusa principal adorada durante a República ou Império romanos. O título Magna Dea podia aplicar-se a uma deusa, como Juno ou Minerva, ou a uma deusa adorada monoteísticamente.


Deusas mães túrquicas siberianas
Umai, também conhecida como Ymai o Mai, é a deusa mãe dos turcos siberianos. Representa-se com sessenta tranças douradas, que parecem raios de sol. Crê-se que era idêntica a Ot dos mongóis. (...)


Conceitos de deusas mãe no hinduísmo
A deusa Durga é considerada como a deusa mãe suprema por alguns hindus.
No contexto
hinduista, o culto à deusa mãe pode seguir-se até às origens da cultura védica, e talvez mais atrás. O Rig Veda chama o poder divino feminino Mahimata,[5] um termo que significa literalmente ‘mãe terra’. Todas as diversas entidades femininas hinduistas são consideradas como muitas facetas da mesma Divindade feminina.


De modo mais simplista, podemos sintetizar que: O sistema indiano de divindades refere-se a Shakti como a manifestação da energia. Shakti, a deusa mãe, é considerada a personificação da energia cósmica em sua forma dinâmica. Acredita-se que Shakti seja a força e a energia nas quais o universo é criado, preservado, destruído e recriado (pela trindade do Hinduísmo: Brahma, Vishnu e Shiva).
Shakti é adorada em várias formas:
- Como RajarajesWari ou Kamakshi, ela é a mãe universal. - Como Uma ou
Parvati, ela é a gentil cônjuge de Shiva.- Como Meenakshi - ela é a rainha de Shiva. - Como Durga, ela monta tigre, que grita de forma a atacar. Durga simboliza a vitória do bem contra o mal. - Como Kali,(também conhecida como a deusa negra _ e talvez uma das fontes de inúmeras Virgens negras em representações da Virgem Maria) ela destrói e devora todas as formas de demônios. Ela também é a personificação do tempo, e sua forma sombria é simbolizada como o futuro segundo nosso conhecimento. (...)
Acreditar em Shakti como o aspecto feminino de uma divindade é comum na malha religiosa da Índia.

Conceito de Deusa Mãe no paganismo

As religiões
pagãs são, no ocidente, aquelas que mais focalizam seus cultos em uma Deusa Mãe.
Na religião
Wicca acredita-se em uma força superior, a Grande Divindade, de onde tudo veio. Essa força superior é adorada sob a forma de duas divindades básicas: A Grande mãe e O Grande Pai. Esse Casal Divino representa todos os demais deuses das diversas mitologias adoptadas pelos wiccanos. Como algumas tradições wiccanas seguem uma infinidade de Deusas e Deuses, a crença pagã é que todas essas deusas e todos esses deuses são aspectos diferentes dA Grande Deusa e dO Grande Deus. Daí o ditado da Wicca que diz que "Todas as deusas são uma Deusa e todos os deuses são um Deus”.
A Deusa Mãe é a geratriz de Todo o Universo e de tudo o que ele contém, daí a frase: "Tudo vem d
A Deusa e tudo para ela retorna".
Uma conseqüência do culto à Deusa Mãe na
Wicca é a super-valorização da natureza, justificada pela sua ligação à Terra, na forma de Gaia.
Além da Terra, outro símbolo muito importante d
A Deusa é a Lua, onde se manifesta de três maneiras, na forma de Deusa Tríplice, sendo a Lua Cheia associada ao seu aspecto de Deusa Mãe.
Uma questão que muitas vezes se levanta na
Wicca é se A Deusa é mais importante do que O Deus. O que se pode dizer é que é uma discussão inócua. A Deusa e O Deus são de igual importância na Wicca. As duas divindades básicas da Wicca são complementares. Não há hierarquia entre elas. (...)"



Em “Fóruns: profecias de Nostradamus” encontra-se:
(…)… os cultos femininos são tão antigos quanto o tempo. No Paleolítico, o corpo da mulher era sagrado, divino por natureza, mistério, a anima mundi. As mulheres eram para muitos antropólogos e mitólogos as portadoras do saber e poder Mágico. Tanto é que há mitologias em todo o globo tratando do processo que os homens tiveram que encetar para tentar controlar este poder. Em resposta a este poder foram criadas as sociedades secretas exclusivamente masculinas, similares à maçonaria de hoje. O enfoque feminino possivelmente era mais ligado às plantas e o masculino aos animais. Este conflito retrata uma deusa imanente versus um deus transcendente. Muito do mal e do demoníaco associado à mulher é advindo desta transição. Sabemos que os deuses dos vencidos são os demônios dos vencedores, e com o arquétipo feminino não foi diferente. Algumas teorias, como já vimos, falam de uma era matriarcal que teria sido sobrepujada pela patriarcal, por mais que este dado antropológico gere polêmica, ele se apóia na psicologia interna, uma identificação com a mãe e a fase oral, e o patriarcado, a fase fálica. E fácil imaginar que esta mudança não ocorreu de uma só vez, e também foi feita de forma violenta muitas vezes. Encontraremos resquícios em várias partes do mundo, pois nos judeus até hoje um filho de mãe judia é judeu, mas o de pai judeu não …(…)



Enraízando nas teorias da psicologia esotérica de Alice Bailey, que por sua vez bebeu das teorias da(s) sociedade(s) teosófica(s) do séc. XIX , temos ainda a celebração do WESAK, ou, em sânscrito Vaishakha, o Festival da Lua Cheia de Maio, que, só por esta denominação desvenda a sua relação com o aspecto feminino que a lua engendra nas suas referências, embora esteja relacionado com a celebração do nascimento, iluminação e morte de Buda.
São tantas as variedades de culto que a New Age trouxe de novo à superfície, enfatizando, sobretudo, a ligação às forças do aspecto feminino, que cheguei a ler testemunhos de adopção de culto simultâneo de Cristo e Buda e a Senhora Buda, incontestavelmente uma referência à deidade do Budismo, Kwan Yin.

Kuan Yin é o Bodhisattwa Celestial da Compaixão, é a mestra da hierarquia divina que trabalha na freqüência da Compaixão e Amor Incondicional. Mais do que a representação de uma divindade, é considerada como a parcela feminina _ a Senhora da Compaixão _ do senhor Avalokiteshvara



O Poder do Feminino no XAMANISMO
Segundo as palavras de um estudioso, brasileiro, sobre esta matéria:
…”…O xamanismo é a prática do Sagrado Feminino. É trabalhar com as energias densas da Mãe Terra e subtilizá-las. (…)
No processo de afirmação da mulher ela teve que utilizar muito a força masculina para posicionar-se melhor no mercado de trabalho, para conseguir seus direitos políticos e etc. ,ela conquistou espaços, mas também foi perdendo um pouco o encanto.
A mulher deve saber usar o poder feminino para suas realizações e suas conquistas…(…)..E o homem não deve ficar atrás e trabalhar seu lado feminino no que diz respeito a sua intuição, seu lado criativo, seu lado mais sensível. Aprender a compartilhar mais as decisões com a mulher, usando " INTUIÇÃO FEMININA"
Lembro também o conceito taoísta, que dentro do Yang existe um pequeno Yin, e dentro do Yin existe um pequeno Yang. Os opostos complementares.
A cumplicidade feminina com as fontes de vida voltam a confirmar-se quando a mulher empreende uma nova tarefa. As mulheres foram, no princípio, colectoras de plantas, e mais tarde, quando se descobriu que uma semente introduzida na terra se reproduzia, transformaram-se em cultivadoras. Os derivados dos vegetais, especialmente os cereais, chegaram para constituir-se uma parte fundamental da alimentação humana. O papel das cultivadoras se transformou num verdadeiro suporte para a vida. O sustento que provinha das mulheres não terminava com sua maternidade.
Há muito tempo atrás, a imagem da Grande Mãe começou a experimentar certas modificações, já não era vista apenas como a extensão da terra. Na época de Ishtar, Isis e uma imensa lista, foram reverenciadas como Mães da Terra e no verdadeiro sentido de Deusas da Fertilidade.
Com frequência as Deusas eram comparadas com a mãe, esposa e amante, algumas vezes nas três simultaneamente.
Em relação às mulheres terrenas, devido a descoberta tardia de sua importância como cultivadoras, na terra invocava-se a Mãe-Terra para poder ter uma boa colheita.
Como a mulher, a Terra nos nutre e nos sustenta, por isso é uma Grande Mãe. Alguns pesquisadores acreditam que os primeiros xamãs foram mulheres.
Em respeito a Mãe Terra, as mulheres mortais são tanto microcosmos como coadjuvantes. Daí deriva o sentimento místico que inspiram …(…)

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Tanto a acrescentar...mas talvez não...


Embora já se diga que a New Age está ultrapassada, é inegável que soube ligar de modo razoavelmente harmonioso a contemporaneidade, plena de desafios que levaram a buscas...até aos primórdios, e o melhor que esses poderiam oferecer, como repositório de essências a retomar, para reflectir e refrescar,_ no seu melhor, repita-se.


A panóplia de variações que essas apresentações tomaram evidenciam, no mínimo, a liberdade e abertura mental destes tempos, não só a sua avidez em preencher vazios/falta de respostas (ou de questões devidamente posicionadas) e a que a religião, na sua... "ortodoxia" por vezes asfixiante, não tem conseguido corresponder.


A diversidade das chamadas ferramentas de tecnologia espiritual espelham, mesmo assim, a sempiterna busca do algo-mais-para-além...e é assim que se faz o caminho, todos os caminhos, também e sobretudo o da espiritualidade.


...E como o atestam os peregrinos de Fátima!... _ que peregrino pode ser-se sem movimento físico(vejamos...as chamadas peregrinações da alma...); mas será bem mais fortalecido aquele que se sente acompanhado da "presença" de Alguém que vela, maternalmente, na vida como à morte...


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book worm



02/05/2008

Dia das " Maias "...

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DIA DAS "MAIAS"



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..........Pois lá passou mais um "dia de Maias", assim se chamava ao 1º dia de Maio, quando na realidade toda a acção que tal envolvia se desenrolava de véspera, para conseguir arranjar as ditas "maias", procurando os ramos de giestas amarelas nas "bouças" ou quintas das imediações ou, já mais tarde, comprando nas mercearias ou frutarias que já as tinham à venda, em grandes molhos, trazidas por quem já se dera a tal trabalho. Isto passava-se em território da minha infância...um ritual que se foi diluindo com o tempo ...e com outras (des)crenças, festividades e celebrações. E era grande o afã, verdadeira ansiedade, de não ficar esquecido postigo, janela ou qualquer ponto mais esconso que pudesse dar entrada ao "carrapato", "mafarrico" ou...sabe-se lá...mas que enchia a boca das "criadas"...e a imaginação dos "pequenos".

..........Para acrescentar alguma informação mais esclarecida sobre o assunto, fui procurar ajuda e deixo aqui algumas das notas que encontrei, não querendo sobrecarregar a leitura:


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Dia das "Maias"


..........«O dia das "Maias" é o primeiro de Maio, que desde tempos imemoriais se comemora em Portugal e assume diversas formas celebrativas de Norte a Sul. No Minho, Douro Litoral e Beira Litoral (seguindo a lição de Ernesto Veiga de Oliveira- quem mais completamente estabeleceu o painel maiático, reolhendo maieiticamente contribuições parcelares anteriores - in "Comércio do Porto", de 13 de Maio e 24 de Junho de 1958) , a essência festejante está na aposição de giestas (por antonomásia "maias"), às vezes de outras flores, nas janelas, nas frestas ou aldrabas das portas, nos currais, em cancelas, nos próprios animais, nas lojas de artífices, e em camionetes, locomotivas, passagens de nível, barcos e traineiras, ostentando rapazes e raparigas, com as orelhas floridas, os seus melhores trajos. Em Trás-os-Montes, além de se enfeitarem as portas das casas com flores de giestas, as raparigas adornam um menino que dizem representar o "Maio-moço" e passeiam-no pelas ruas com grande ruído alegre, cantando e bailando em volta dele (Abade de Baçal). Na Beira-Alta e na Beira-Baixa (embora nesta apareça excepcionalmente um boneco de palha) são também rapazes ataviados de giestas quem personifica o "o Maio", retouceiro e sátiro, centralizando o peditório cerimonial em dinheiro ou castanhas.Na Estremadura, a "Maia" é uma rapariguinha adereçada com flores que percorre as ruas da povoação acolitada pelas companheiras. Nas províncias do Sul a pessoalização também é normalmente feminina. Assim no Alentejo, com particular incidência em Beja. Aqui as "Maias" são meninas que vestem de branco e enfeitam com flores, pondo-lhes na cabeça um coroa de mais flores, e sentando-as em cadeiras, à esquina de alguma rua, nalgum largo ou junto à porta de sua casa. Em seu trono enfeitado de rosas se aquietam algumas horas, enquanto companheiras mais crescidas, com pequenas bandejas na mão, pedem a quem passa: "-Meu senhor, um tostãozinho para a 'maia'!"; ou "Um tostão para a Maia- que não tem saia!" (Manuel Joquim Delgado). No Algarve, em quase todas as casas é costume arranjar-se um grande boneco de palha de centeio, farelos e trapos, que depois vestem de branco e cercam de flores. É a "maia" colocada à vista de quem passa, e em volta da qual se fazem bailes e descantes (Reis Dâmaso)»
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José Quitério, "As Maias" in "Manjares Rituais em Portugal", cap. III do
LIVRO DE BEM COMER (Assírio & Alvim, 1987)

(Publicada por manueladlramos em 1.5.06 )

01/05/2008

...Ainda sobre o CHÁ...(II)



VAMOS TOMAR CHÁ?... (cont.)
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Breve nota histórica

..........A utilização do chá, ao que parece, começou por ter um caracter medicinal e o seu uso como bebida, preparada a partir da infusão das folhas de chá, data de há milénios. Segundo a lenda deve-se ao imperador chinês Shen Nung (2737 A C.) a descoberta das propriedades estimulantes da folha do chá. O tratado de Lu Yu, primeiro tratado sobre chá com caracter técnico, escrito no séc. VIII durante a dinastia Tang ajudou a imortalizar o papel da China como responsável pela introdução do chá no mundo. Nele foram estipulados pela primeira vez uma série de preceitos de caracter técnico. No inicio do séc. IX a cultura do chá foi introduzida no Japão por um monge budista, Saicho, que trouxera da China algumas sementes. A cultura resultou com êxito e desenvolveu-se rapidamente. Produziu-se então nestes dois países, China e Japão, uma evolução extraordinária, Talvez única na história dos produtos de consumo humano e que tocou não só o domínio técnico e económico mas também, e principalmente, os domínios artístico, poético, filosófico e mesmo religioso, envolvendo o consumo de chá nestes dois países, mas principalmente no Japão, um cerimonial por vezes complexo mas sempre de grande significado.


..........A Europa só conheceu o chá num passado mais recente. As referências mais antigas que se encontram na literatura europeia respeitantes ao chá devem-se a Marco Polo no relato da sua viagem assim como a seu compatriota Ramusio, em escritos que datam de 1559, e ao português Gaspar da Cruz que a ele se refere numa carta dirigida ao seu soberano. A sua introdução neste continente só se veio a verificar no início do séc. XVII, em consequência do comércio que então se estabelecia entre a Europa e o Oriente. Teriam sido os holandeses a trazer pela primeira vez o chá à Europa, sendo responsáveis pela intensificação do seu comércio mais tarde desenvolvido pelos ingleses. O chá era importado por intermédio da famosa “Tea English East Indian Company”, que detinha o monopólio do comércio de chá com a Ásia e que em 1715 se estabeleceu em Cantão passando a gozar de uma situação privilegiada. Esta manteve-se até 1833, altura em que se viu forçada a procurar novas fontes de abastecimento; virou-se então para as possessões da Inglaterra na Ásia (India e Ceilão) onde introduziu a cultura, primeiro na India e depois em Ceilão.Na Inglaterra, o seu consumo intensificou-se rapidamente e a partir de meados do séc. XVIII o chá tornou-se a bebida de eleição de todas as classes sociais. É de sublinhar a popularidade que ainda hoje goza neste país, sendo bem conhecido o lugar que esta bebida ocupa na vida de todo o cidadão britânico.A sua popularidade estendeu-se aos países onde a influência inglesa se fez sentir, primeiro nos EUA depois a Austrália e o Canadá. Actualmente o chá é a bebida mais consumida em todo o mundo.


..........Em território português, presentemente, o chá só é cultivado em S. Miguel nos Açores onde a cultura, que se pratica desde finais do século XIX, é feita contudo em pequena escala. Apesar de no Continente ter sido tentada a sua cultura, nomeadamente no Minho e no Alentejo, hoje restam apenas algumas destas plantas, que existem com carácter ornamental.
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Botânica


..........A planta do chá é designada por Camellia sinensis (L.) O. Kuntze e botanicamente pertence à família Theaceae. A planta do chá é lenhosa e de folhagem persistente. As folhas são alternas, de pecíolo pequeno, elípticas, dentadas e normalmente coriáceas, apresentando-se glabras ou ligeiramente pubescentes na página inferior ao longo da nervura principal. As suas folhas mais jovens e os gomos, parte da planta utilizada na produção do chá comercial, são cobertos por um fino indumento branco e sedoso que mais tarde vem a desaparecer. É este indumento, aliás, que está na origem do nome dado ao gomo terminal : Pekoe, da palavra chinesa pak-ho que significa cabelo ou penugem.As flores, pequenas, são brancas, geralmente com 4 ou 5 pétalas, aromáticas e aparecem nas axilas das folhas em grupos de 2,3 ou 4.O fruto é uma cápsula tricoca com 2 ou 3 cm de diâmetro. Dada a grande dispersão que a planta sofreu desde o início do seu cultivo até aos nossos dias e a livre hibridação entre os vários tipos geográficos, não tem sido fácil para os botânicos a descrição das variedades existentes. Contudo, atendendo ao factor geográfico, consideram três variedades principais de Camellia sinensis, que podem ser reconhecidas na região de origem desta planta. São elas : var. sinensis (chá da China), var. assamica (chá de Assam) var. assamica ssp. lasiocalyx ( chá do Cambodja ou Indochina). Estas variedades cruzam-se entre si originando múltiplos híbridos.
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Flôr e folhas de Camellia sinensis (planta do chá).

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A Produção do chá nos Açores


..........Em 1874, chegaram aos Açores (Ilha de S. Miguel) as primeiras sementes de C. sinensis- a planta do chá- e, alguns anos mais tarde, foram chamados dois especialistas chineses que se dedicaram a ensinar aos fabricantes locais as técnicas de preparação das folhas. Todas as variedades de chá provêm dos rebentos jovens desta planta, as diferenças derivam do clima, do período da colheita e do tratamento a que são submetidos posteriormente.Chegaram a funcionar na Ilha de S. Miguel mais de uma dezena de plantações com fábrica própria. Entre elas encontrava-se a Gorreana que é actualmente, a única plantação com fábrica de chá de toda a Europa.A Gorreana explora 23 hectares, uma área capaz de produzir cerca de 40 toneladas de chá seco. São necessários em média, cerca de 4 Kg de folhas de chá fresco para obter 1 Kg de chá seco pronto para infusão. A Gorreana produz chá verde e chá preto ortodoxo, assim designado porque durante o processo de transformação das folhas estas ficam na sua maioria, enroladas e inteiras- tal como acontecia com o chá que era trabalhado com as mãos e não por meio das novas tecnologias, que deixam as folhas partidas ou esmagadas.O processo de transformação tradicional ortodoxo do chá compreende várias fases:


a) Emurchamento- esta operação tem como objectivo murchar a folha, ou seja, fazê-la perder água por evaporação, para que não quebre durante a fase seguinte de enrolamento. As folhas são estendidas em camadas finas em tabuleiros sobre redes metálicas através das quais se faz passar uma corrente de ar quente, a temperatura contralada, forçada por ventiladores. As folhas pelo emurchamento perdem cerca de 25-50% do seu peso, este processo demora cerca de 16 a 24 horas;


b) Enrolamento- esta operação consiste em enrolar a folha. A destruição das membranas celurares permite o contacto dos vários componentes químicos com as enzimas. O enrolamento começou por ser manual, mas actualmente é feito numa máquina, esta consiste essencialmente, numa mesa e num tabuleiro onde se colocam as folhas e uma tampa que exerce pressão sobre elas. Um movimento de rotação faz girar a mesa e o tabuleiro em sentidos contrários. As folhas passam em seguida por um crivo que desfaz os aglomerados de folhas e separa as folhas mais finas das mais grossas, que voltam, geralmente a ser enroladas. As que passam pelo crivo seguem para a fermentação. Este processo demora cerca de 30 minutos mas pode ser repetido 2 ou 3 vezes, pois se o chá ficar insufecientemente enrolado origina infusões mais fracas.


c) Fermentação- as folhas são espalhadas em camadas de altura variável de 2,5 a 10 cm sobre uma superficie de cimento, de ripado ou em tabuleiros de alumínio. A fermentação exige a presença de oxigénio (trata-se em termos químicos de uma reacção de oxidação) e uma temperatura que não exeda os 27 ºC, além de uma atmosfera húmida. A fermentação demora cerca de 2 a 3 horas.


d) Secagem- esta operação tem como principal objectivo, parar a fermentação. A sua duração depende da humidade da folha, normalmente demora cerca de 20 minutos, a 90 ºC. A secagem faz-se mediante uma corrente de ar quente que atravessa os tabuleiros.


e) Escolha, armazenagem e embalagem- Depois de arrefecidas, as folhas são separadas de acordo com os seus diferentes tamanhos. Esta separação é efectuada geralmente em crivos rotativos ou pratos oscilantes associados a máquinas que quebram as folhas e outras que aspiram poeiras ou corpos estranhos. O chá é depois armazenado em tulhas ou silos até à altura de ser embalado.A selecção das folhas dá origem aos diferentes tipos ou graus de chá preto. Entre outros, destacamos os diferentes tipos de chá preto produzidos pela Gorreana (Açores), o Orange Pekoe (feito a partir do gomo apical e da 1ª folha do rebento, muito enrolado, resultando numa rica infusão, com sabor e perfume delicados), o Pekoe (originário da 2ª folha tem um paladar e aroma menos acentuado ) e o Broken Leaf (feito a partir da 3ª folha e de folhas partidas, é menos aromático mas mais suave).

.......... O chá verde difere ligeiramente no processo de transformação, após a colheita as folhas são sujeitas a um processo de “steaming”, que consiste na aplicação de vapor de água o que leva à inactivação de enzimas (polifenol oxidades), impedindo a fermentação (ou mais correctamente a oxidação). As folhas são depois enroladas, secas e de novo enroladas. Ficam no final, com uma cor verde-azeitona, escura e inteiras.


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