"Horas benditas, leves como penas, Horas de fumo e cinza, horas serenas..."_Florbela Espanca. E este será um recanto para um encontro de amigo(a)s, para tomar chá ou café, receitas caseiras em doses de afectos ou outros sabores de boa disposição...ah: e sobre ditos, mitos & ritos...

23/01/2009

CALENDÁRIOS _ II- O Calendário Celta

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CALENDÁRIOS _ II- O Calendário Celta





O Horóscopo Celta Lunar não foi desenvolvido baseado nos movimentos da lua (como alguns devem estar imaginando_ sobretudo atendendo ao título deste artigo, sendo como é genericamente conhecido/traduzido, mas sim nos períodos do ano em que as suas árvores sagradas tinham uma maior predominância de suas características e propriedades.



A natureza era a companhia do homem primitivo. Ela fornecia abrigo e alimento e, em retribuição, a humanidade a reverenciava. As religiões primitivas louvavam as pedras e montanhas, os campos e florestas, os rios e oceanos.

A Voz da Floresta é uma ponte mítica entre o mundo dos deuses e o dos homens, entrelaçado com a veneração que os Celtas tinham pelas árvores. Como uma representação do universo, as raízes das árvores habitam o solo, o conhecimento profundo da Terra.

E o tronco une as raízes ao céu, trazendo este conhecimento à luz.

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Horóscopo Lunar Celta


Em todas as sociedades Celtas, os druidas desempenharam um papel primordial. Aconselhando Reis, ensinando as ciências, dominando a medicina e a astronomia. É também o sacerdote, o Juiz e a memória do povo. É representado de túnica branca, de foice de ouro na mão, cortando o visco, mas não deixou nenhum texto escrito para testemunhar a sua sabedoria e os seus conhecimentos.
Sem dúvida, os druidas eram uma comunidade de sábios e deixaram poucos vestígios materiais de sua existência. E para reconstruir a história dos Druidas e encontrar a sua mensagem, apenas dispomos, infelizmente, dos testemunhos de autores ao serviço do império romano e de histórias compiladas pelos monges Irlandeses, Bretões e Gauleses da Idade Média; documentos tantas vezes suspeitos, mas inúmeros e vindos de horizontes diferentes, permitem verificações, e por vezes, algumas das suas informações são confirmadas pelas descobertas arqueológicas. Deste modo, os historiadores, os linguistas, os arqueólogos, reconstituem a pouco e pouco a sua herança perdida.


A sabedoria dos Druidas soube tornar os Celtas despreocupados, livres e alegres. O seu destino pessoal numa batalha deixava-os indiferentes. Nada se perfilava no horizonte da sua passagem pela Terra. Uma outra vida feliz, sem inferno nem purgatório, os esperava no Outro Mundo.
Sabe-se pelos relatos dos Celtas insulares que este Outro Mundo, espécie de universo paralelo, "o Sid", podia simbolicamente situar-se numa ilha do oceano, no extremo ocidental; ali, onde desaparece o Sol ao anoitecer, estava a Ilha; ou ainda ser imaginada no norte do mundo como a ilha de Avalon.




Todos os anos, em 1 de Novembro, pela festa de Samhain, que marcava o início do ano celta, o tempo e o espaço deixavam de existir e os dois Mundos comunicavam-se. As elevações neolíticas, as áreas cobertas, os túmulos, os dólmens, com corredores, serviam de ponto de contacto privilegiados com o mundo dos desaparecidos: prova de que os Celtas e os Druidas não tinham a menor dúvida sobre a antiguidade e a função funerária destes monumentos.




A morte das Florestas



"Muito sábios", mas também "Homens do Bosque", “Homens da Árvore", "Homens do Carvalho", sem dúvida foram os Druidas. Todos os testemunhos concordam neste aspecto: poetas, geógrafos, historiadores associaram os Druidas às florestas.
Por este motivo a conquista da Gália duplicou-se numa guerra contra as árvores; e César "foi o primeiro a ousar pegar num machado, brandi-lo e rachar com ferro um Carvalho perdido nas nuvens", refere Lucano.
A desarborização intensiva da Gália pelos romanos contribuiu bem eficazmente para o desaparecimento dos Druidas e Celtas.
Quando S. Patrício, em meados do século V, veio especialmente a Glastonbury com o intuito de cristianizar definitivamente o lugar Celta sagrado, começou por mandar abater com machado e alvião todas as árvores que cobriam a célebre colina do Tor.
Lutar contra as árvores era ainda nesta época uma forma de combater o Druidismo e a Cultura Celta.
Nas clareiras, no coração das profundas florestas, protegidas pela penumbra das criptas vegetais, os Druidas transmitiam pacientemente aos seus discípulos a sua sabedoria imemorial: estes afirmavam conhecer a grandeza e a forma da Terra e do mundo, os movimentos do Céu e dos astros, bem como a vontade dos Deuses. E durante muito tempo, fosse numa gruta, fosse nos pequenos vales arborizados afastados, continuaram ao seu povo uma doutrina secreta.

Na sua célebre descrição da apanha do visco pelos Druidas, Plínio, o Velho afirma que a cerimônia se realizava ao sexto dia da Lua, "que assinala entre eles o começo dos meses, dos anos e dos séculos que duraram 30 anos”.



*Os Brâmanes chamavam ao sexto dia da Lua Mahatithi, o Grande Dia.
Os Druidas, seus homólogos, consideravam este mesmo dia como particularmente sagrado e dotado de uma força considerável. A revolução sideral da Lua é de 27 dias, 7h e 43 minutos. É o tempo que o astro leva a voltar a uma mesma posição no céu em relação às estrelas.
Um século de 30 anos dos Druidas contém 401 meses de revolução sideral. É por isso que, por exemplo, nos romances da Távola Redonda, inspirados na tradição Celta, os Cavaleiros Guardiões do Graal são 400, número a que se vem juntar a figura do Rei.
A Lua e o planeta Saturno têm um parentesco curioso: durante um dia, a Lua percorre sobre a elíptica a mesma distância que Saturno no ano. Sem nos perdermos em pormenores, digamos que 30 dias da Lua equivalem a 30 anos de Saturno.
De acordo com um texto de Plutarco, "de facie in orbe lunae", foi possível deduzir que o século de 30 anos dos Druidas começava quando o planeta Saturno, Nyctouros, entrava no ciclo do touro, ou seja, quando todos os 30 anos, nesta época, Saturno e a Lua no seu sexto dia se viam em conjunção com a pequena constelação das Plêiades, a noite da festa de Samhain.
Mas se os séculos de 30 anos eram calculados em função do ciclo de Saturno e da revolução sideral da Lua, o calendário de todos os dias, como o encontrado em Coligny, em contrapartida, baseava-se na revolução sinódica(1), quer dizer, nos intervalos de tempo que separa duas fases idênticas do astro, ou seja, 29 dias 12h0 e 44minutos.
Um período de 5 anos chamava-se LUSTRE. Um ciclo druídico completo tinha 6 LUSTRES ou 30 anos. Uma era druídica tinha 630 anos ou 126 lustres.
A diferença entre revolução sideral e a revolução sinódica deve-se ao movimento da Terra. Existem 50 meses de revolução sinódica da Lua em quatro anos, e 150 em 12 anos. O número 50 e 150 (ou três vezes 50) surgem constantemente nas narrativas da cultura Celta, em particular na Tradição Irlandesa.
Com os romances da Távola Redonda, é a corte do Rei Artur que recorda este sistema; com efeito, segundo os poetas, os cavaleiros reúnem-se aí quer em número 12 quer de 50 ou ainda de 150. Assim, a corte do mundo sensível do Rei Artur opõe-se ao reino espiritual do Graal.



Plutarco, no texto já citado, conta que os habitantes das ilhas dispersas em redor da Grã-Bretanha, afirmam que Saturno é mantido prisioneiro pelo seu filho Júpiter na ilha nórdica de Ogígia. O planeta Júpiter percorre a elíptica em 12 anos, ou seja, 150 meses de revolução sinódica da Lua. A história Celta referida por Plutarco desvenda talvez apenas uma oposição entre dois modos de contar tempo.


Os Druidas não ensinaram uma religião, mas uma metafísica da Natureza.



A sua Confraria reuniu a aristocracia do saber e da filosofia. Guias espirituais eram também cientistas, físicos, astrónomos...
Um dos factos mais interessantes na cultura celta era a afinidade com a natureza: os celtas realizavam a contagem dos dias através do nascer e do pôr do sol. Levando-os a contarem as noites e não os dias, criando assim uma ligação perfeita entre o céu e a terra, entre o sol e a lua.
Assim o dia começa quando o sol se põe; ao contrário do que “vivemos” actualmente. O dia inicia-se com a Lua, com a Deusa mostrando que é a hora de trabalhar o mistério, o oculto, o morrer.
Ao amanhecer, o Deus vem fecundar e nutrir a Deusa, para que mais um dia possa ser gerado. Aceitar, entender esta prática sem fazer qualquer ligação com feitiçarias, para alguns é muito difícil, mas, para os Sacerdotes dos Celtas _ Os Druidas _ e para a cultura celta em geral, estes ensinamentos são de imensa profundidade.


Os druidas deram a cada um dos meses do ano o nome de uma das suas árvores sagradas; assim como fizeram com o alfabeto ogham. Cada letra deste alfabeto era representada por uma árvore, que, por sua vez, representava um período do ano. A este período demos o nome de mês; isto para fazermos um paralelo entre as duas culturas.

Ogham Chart (Quadro de Ogham)

Letra Lat. - N. em IrAr. - N. em IrMod. - N. em Português

B - Beithe (beth) - Beith - Betúla (Vidoeiro)
L - Luis - Luis - Sorveira
F - Fearn - Fearn - Amieiro
S - Sail - Sail - Salgueiro
N - Nin - Nion - Freixo
H - Uath (Huath) - Uath Pilriteiro (Espinheiro-alvar)
D - Dur (Duir) - Dair - Carvalho
T - Tinne - Tinne - Azevinho
C - Coll - Coll - Aveleira
Q - Quert - Ceirt - Macieira
M - Muin - Muin - Vinha
(silva, amoreira-silvestre)
G - Gort - Gort - Hera
nG - Getal (nGetal) - nGéadal - Giesta-das-vassouras (Cytisus scoparius)
Str - Straif - Straif - Espinheiro-negro
R - Ruis - Ruis - Sabugueiro
A - Ailm - Ailm - Abeto-Prateado
O - Onn - Onn - Tojo
U - Úr - Úr - Urze
E - Edad - Eadhadh - Álamo-Branco (Faia-Negra)
I - Ida - Iodhadh - Teixo
EA - Ebad - Éabhadh - Álamo-Branco
(Faia-Negra)
OI - Oir - Ór - Evônimo (
genero Euonymus)
UI - Uilleann - Uilleann - Madressilva
IO - Ifin - Ifín - Groselha
AE - Emancoll (Phagos) - Eamhancholl - Hamamélis




Veja-se agora, então, e através das linhas que se seguem, qual a árvore que rege o período do ano em que cada um nasceu:



MÊS - ÁRVORE - SÍMBOLO

Dez 24 a Jan 20 - Bétula - Águia ou Veado

Jan 21 a Fev 17 - Sorveira-brava - Dragão Verde

Fev 18 a Mar 17 - Freixo - Tridente

Mar 18 a Abr 14 - Amieiro - Pentáculo

Abr 15 a Mai 12 - Salgueiro - Serpente

Mai 13 a Jun 09 - Espinheiro - Cálice

Jun 10 a Jul 07 - Carvalho - Roda de Ouro

Jul 08 a Ago 04 - Azevim - Lança em Chamas

Ago 05 a Set 29 - Aveleira - Salmão

Set 30 a Out 27 - Videira - Cisne

Out 28 a Nov 23 - Hera - Borboleta

Nov 24 a Dec 22 - Sabugueiro - Pedras

Dez 23 - Visco - Corvo

Para aumentar os poderes de cada uma dessas árvores seria apropriado ter algum objecto feito da madeira da árvore que corresponde ao seu signo. E, preferindo, tenha-se o elemento que simboliza a árvore para que as suas características e propriedades terapêuticas possam agir sobre a pessoa, além de lhe trazer protecção. " (...)
(in: Awen /Mistérios Antigos)


N. E. _ Acontece que já há alguns anos tive a oportunidade de conhecer, através da leitura de uma estudiosa destes asssuntos, a existência de um horóscopo celta, que atribui a determinados dias do ano a "protecção" de uma dada árvore, que seria a que regeria o aniversário de cada um, de acordo com a sua data de nascimento, num ciclo al longo de seis meses. Casualmente _ ou não _ apresenta discrepâncias quanto a esta que se expôs acima. Aqui fica desse facto o registo, quanto mais não seja para dar algum realce à necessidade de encarar este tipo de informações com uma certa latitude...








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